quinta-feira, 27 de setembro de 2012

VINHOS E ACOMPANHAMENTOS

Vinhos Tintos:

Vinho tinto seco leve : Carnes vermelhas fritas ou grelhadas; Frango assado e cozido; Pizzas; Carpaccio de carne, Salgadinhos assados ou fritos; Bacalhau temperado acompanhado com legumes, batatas e molho; Paella.
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Vinho tinto seco encorpado: Carnes assadas; Carnes de caça assadas, Queijos de mofo branco, como o brie, camembert ou caprice des dieux.
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Vinho tinto leve: Massas com molho alho e óleo.
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Vinho tinto encorpado: Queijos de massa dura, como provolone.
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Vinho tinto seco: Massas com molho de tomates temperado; Massas com molho de ervas aromáticas; Massas com molho condimentado; Frios em geral; Queijos amarelos como edam, estepe, parmesão, gouda, gruyère.
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Vinho branco seco: Massas com molho branco; Saladas em geral (também podem acompanhar vinho branco semi-seco ou vinho rosé refrescado); Entradas; Antepastos; Sardinhas; Queijos cremosos como Rambol; Sushi e sashimi (o vinho tem que ser frutado).
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Vinho branco seco leve: Peixes em geral, sejam em postas ou filé; Fondues.
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Vinho branco seco encorpado: Ostras e mariscos.
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Vinho branco doce: Fígado de ganso; Morangos; Bolos de natal ou panetones (acompanham também vinho tinto); Truta.
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.Vinho Verde Branco: Bacalhau grelhado ou assado.
.Vinho do Porto: Frutas secas (podem acompanhar também o vinho Madeira); Bolos (acompanham também Jerez e Madeira); Queijos azuis como o roquefort; Sorvetes.
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Jerez:
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Jerez: Sopas.
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Vinho produzido na Ilha da Madeira, envelhecido em tonéis de carvalho. Pode ser branco ou tinto, seco ou suave.
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.Vinho produzido a partir de uvas doces, originário da Itália.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

serviço à mesa


 



 


História

As normas de etiqueta à mesa surgiram na antiga França, onde até hoje é considerada como sinônimo de requinte e refinamento. Quem nunca ouviu falar dos maravilhosos “menus” desenvolvidos pelos franceses, suas belas mesas compostas com bom gosto e classe?
É importante salientar que as normas de etiqueta à mesa são as mesmas, independente do estilo de recepção que você irá realizar, o que irá interferir na composição da mesa será o cardápio oferecido. Talheres, pratoscopos sempre estarão dispostos à mesa de acordo com o cardápio que você preparou.

Tipos de recepção:
  • Formais (serviço à francesa, serviço à inglesa)
  • Informais (serviço à americana, à brasileira)

 

Serviço à francesa 

Em matéria de etiqueta à mesa, é o mais requintado, deve ser realizado somente em ocasiões especiais (casamentos, bodas, noivados, quando receber pessoas formais, como ambiente de trabalho – presidentes, diretores, hóspedes estrangeiros). São situações protocolares, como numa embaixada por exemplo.

Neste serviço devemos tomar precauções dobradas, nada pode dar errado... O garçom deve estar impecável (com uniforme e luvas). O mesmo começa servindo a mulher sentada ao lado direito do anfitrião (a convidada de honra), em seguida todas as mulheres, por último o anfitrião. Deve trazer a bandeja à esquerda do convidado, para que ele mesmo se sirva.
Os lugares à mesa são marcados com porta cartões (placement), onde consta o nome de cada um à frente do local onde deve se sentar.
O garçom que serve à francesa deve ter muita prática, não deve nunca esbarrar nos convidados enquanto serve e nem se encostar à mesa. 

Serviço à inglesa

O serviço à inglesa também é um serviço requintado, porém o que o diferencia é que neste serviço o convidado não precisa pegar os talheres da bandeja para se servir, pois é o garçom que o fará. É um serviço muito usado nos restaurantes. Somente o prato principal é passado entre os convidados o resto dos pratos são servidos individualmente nos pratos.

O serviço à inglesa sentado à mesa pode ser:
direto (também chamado empratado ou à americana)
ou 
indireto (sendo este último com a utilização do carro de serviço/guéridon). 
A  apresentação dos pratos na forma indireta ocorre muito em restaurantes e churrascarias de luxo, já que antes de degustar, o cliente observa atento à confecção do prato antes deste ser levado à mesa.
Os pratos são servidos á esquerda, e retirados pela direita como no estilo francês. 

Serviço à americana (o mesmo do à inglesa direto ou empratado)
 
Serviço à americana é quando o prato é servido "montado", já pronto, na mesa do comensal, seguindo padrões de estilo que variam de acordo com o conhecimento individual daqueles que o preparam. Um grande chefe de renome internacional, por exemplo, fará sua apresentação de acordo com os conhecimentos que possui o que o diferirá muito daquele prato feito que fizermos em casa. Observar que o serviço à americana é conhecido, também, como serviço de empratado. O que chama a atenção neste serviço é a apresentação dos alimentos dispostos no prato, que tendem a obedecer a uma harmonia de cores, texturas e sabores para garantir que vai agradar não somente aos olhos do comensal, como também, o seu paladar. Os pratos, já montados em sua apresentação final são servidos pela esquerda do comensal, e retirados pela direita, aplicando-se a mesma concordância com os serviços à esquerda, onde, em geral, serve-se o pão e os pratos que compõem o menu, e a direita, onde, em geral, são servidas e retiradas as bebidas, assim como, as sobremesas.

Serviço Franco-americano (o buffet)
Qualquer refeição, do café da manhã à ceia, pode ser servida à americana, isto é em forma de buffet.
Este tipo de recepção é indicado para reuniões com um número grande de pessoas, para que as pessoas fiquem mais à vontade para se servirem. 
Porém, hoje em dia é bastante adotada como forma prática e simples de receber amigos em casa, claro tudo isso sem perder o requinte e bom gosto à mesa.
A mesa poderá ser arrumada da seguinte forma: os pratos e talheres ficam empilhados num dos lados da mesa, um arranjo deve vir ao centro, e do outro lado as travessas com seus respectivos talheres.
Se forem mais de 10 pessoas, os pratos devem ser divididos em 2 pilhas, no buffet ou mesinha auxiliar, inclusive os pratinhos de sobremesa.
 
  
Serviço à brasileira
É o tipo de serviço que mais estamos acostumados, é o tradicional serviço familiar que realizamos em nossas casas. A mesa deve ser arrumada com toda a elegância, pois mesmo sendo pessoas mais íntimas, deve–se ter o capricho de distribuir tudo da melhor forma possível. Nesse serviço não utilizamos garçom, pois as travessas podem estar à mesa.
Os anfitriões têm três opções:
Servir todos os convidados – ou repetir travessas – ou usar o aparador e deixar os convidados se servirem à vontade. 

Como servir à mesa
A pessoa que servirá a mesa (o dono da casa, copeira ou garçom) deve estar com aparência impecável. Deve ter boa postura, jamais se curvar sobre o convidado (roupa sempre limpa, pois higiene é fundamental). A toalha também deve estar limpa e bem passada. A mesa bem arrumada, tudo deve estar impecável.
  • Começa-se pela entrada (sopa, salada...). Se for sopa, prato fundo ou a taça de consomê (poderá vir cheio para mesa).
  • Se a entrada for fria, poderá estar no prato e à mesa, antes dos convidados sentarem. Senão, será servida pelo lado esquerdo após se sentarem.
  • As bebidas são servidas pelo lado direito e de acordo com os pratos. Nunca encha até a boca os copos (somente 2/3 da taça).
  • A primeira travessa é levada pelo lado esquerdo do convidado (se for à francesa ele mesmo se serve). Os pratos sujos devem ser retirados também pelo lado esquerdo. Os pratos limpos sempre entram pela direita do convidado.
  • Servir homens e mulheres partindo sempre da convidada de honra.
  • Evite fazer pilhas ao retirar os pratos, primeiro são retirados os pratos e depois os copos.
  • Ao terminar a refeição, o café pode ser servido à mesa ou na sala de estar. 
     
    Fonte:



A GASTRONOMIA FRANCESA: DA IDADE MÉDIA ÀS NOVAS TENDÊNCIAS CULINÁRIAS


                                                               Carlos Roberto Antunes dos Santos DEHIS/SCHLA/UFPR



Falar da gastronomia na França, do ponto de vista do
historiador, significa buscar suas origens, explicar a sua
reputação, destacar as relações que ela mantém com as diversas
produções alimentares inter-regionais e transnacionais e as suas
tendências diante das novas culinárias hoje presentes, como a
cozinha molecular.
A indiscutível supremacia da cozinha francesa através da
História Moderna e Contemporânea nos leva às suas origens
medievais, e à sua definição como a fusão de três elementos
indispensáveis: a riqueza de ingredientes; a sabedoria na
maneira de utilizá-los e o requinte nos mínimos detalhes. Com
charme e versatilidade incontestáveis, quer falando da Cozinha
Clássica ou da Nouvelle Cuisine, a gastronomia francesa é
responsavel pelas inúmeras outras cozinhas que nela se
espelharam e estão espalhadas pelo mundo, bem como das
formas de fazer da cozinha e da mesa verdadeiras artes.
A partir deste enunciado, podemos interrogar a
gastronomia francesa, em termos de História da Alimentação, a
partir de quatro questões: 1. Desde quando esta reputação
gastronômica, da qual os franceses sempre se orgulharam,
nasceu? 2. Como esta reputação gastronômica se mantém até
hoje? 3. Porque ela aconteceu na França? 4. Qual o
comportamento da cozinha francesa diante da gastronomia
molecular, principalmente a dos espanhóis?
Geralmente a idéia que se tem da Idade Média é aquela de
cavaleiros brutais rasgando a dentada a caça ainda quente e a
sangrar, os camponeses vivendo permanentemente com fome, os
monges gordos de grandes barrigas que vivem só a comer;
cozinheiros ignorantes trabalhando com instrumentos
primitivos. Esta é a idéia que se tem da alimentação medieval,
isto é, tempos bárbaros que só podem corresponder a cozinhas
bárbaras. Isso é uma visão já ultrapassada, pois os documentos
de séculos atrás, nos revelam que os camponeses da Alta Idade
Média (sécs. V ao X), salvo em tempos de acidentes climáticos,
comiam de acordo com a fome que tinham e, muitas vezes
melhor que os camponeses do séc. XVII (Era Moderna). E, entre
as elites, desenvolveu-se nesta época medieval uma arte
culinária, no sentido da gastronomia, que não fica nada a dever
à nossa, no que diz respeito à variedade e sofisticação. É preciso
considerar que a herança greco-romana (antiguidade Clássica)
não foi aniquilada durante as invasões bárbaras e que
permaneceu na aristocracia da Alta Idade Média, constituindo
uma cozinha muito interessante.
Sendo a Idade Média uma civilização essencialmente
cerealista, o pão torna-se o alimento principal, consumido na
ceia, junto ao vinho. Portanto, pão e vinho são alimentos
essências nesta época. Em face da importância da Igreja no
cotidiano medieval, a evolução da cozinha foi lenta e
progressiva, sendo que alguns alimentos foram postos de lado
como os temperos de peixes (que eram largamente utilizados
pelos romanos), substituídos por outras especiarias como a nozmoscada
e o Cravo-da-Índia (começam a ser introduzidos na
farmacopéia e depois na cozinha).
Ao longo da Idade Média opera-se uma outra modificação
fundamental: a forma do corpo (o aprumo) da pessoa que come.
O hábito de comer deitado da época romana é substituído pelo
hábito de comer sentado, determinado pela passagem de uma
cozinha fundada nos picados e almôndegas que podiam se
agarrados com as mãos, para uma outra em se priorizava o
corte das carnes.
A mesa francesa medieval em certos períodos era farta,
com a presença de peixes como congrios, arenques, salmões,
enguias, lagostins, trutas, esturjões, empadas de Paris, tortas,
pudim de ovos, queijos, castanhas, mostarda, pêras, alho,
cebolas, e outros. Desta forma, na I. Média se constituiu uma
arte de mesa original e requintada, uma certa gastronomia. A
cozinha francesa na Idade Média é, sob certos aspectos,
diferente da nossa tendo os gostos e hábitos alimentares sofridos
profundas alterações. Mas essa ruptura não se deu de um dia
para o outro. Importante destacar que em 1486, foi impresso o
primeiro livro de culinária na França, intitulado “Le Viandier”
com 230 receitas. Desse ponto de vista, a Renascença na França
não parece ter sido um século de grandes mudanças culinárias,
pois a influência medieval ainda estava muito forte e muito
próxima.
A descoberta da América e do caminho marítimo para as
Índias, e a conquista espanhola da América Central trouxe
novos alimentos para os europeus: tomate, pimentas, milho,
batata, feijão verde, novas especiarias, temperos, peru e outros.
Entretanto, a introdução destes novos alimentos na cozinha
européia e especialmente a francesa, não foi algo de imediato. O
uso destes alimentos manteve-se mais restrito até o séc. XVII,
quando a nobreza e uma nova geração de cozinheiros
demonstram claramente seus distanciamentos da cozinha gótica.
A partir deste período, pode-se dizer que em França os gostos e
as maneiras de comportamento á mesa (etiqueta) são renovadas.
Tudo isso revela uma cozinha francesa inovadora, original,
demonstrando que para os franceses a certeza que a sua forma
de comer era superior a de todos os outros povos da Europa. E
tal constatação é comprovada pela leva de estrangeiros que
visitam a França e comprovam a superioridade francesa no
domínio da cozinha e da mesa.
Ao longo do séc. XVII, a afirmação da cozinha francesa
colocada acima é iniciativa da realeza sob Luis XIV, o Rei Sol. O
refinamento proveniente da Corte engendra um vasto
movimento de renovação dos costumes e práticas alimentares.
Os cozinheiros franceses passam a privilegiar os cozimentos,
deixando as carnes com o máximo de sabor, o que permitiu que
se desenvolvesse em França uma produção de carne da mais alta
qualidade. Junto à carne de boi se exigiu legumes frescos e de
sistema de manutenção de alimentos como os peixes e frutos do
mar, isto é, oferecer sempre peixe fresco. Desta forma, a grande
novidade desta cozinha do séc. XVII é privilegiar os sabores
naturais dos alimentos (algo até então inédito).
O séc. XVIII viu surgir uma individualização da comida,
isto é, um prato e seus talheres para cada pessoa. A mesa deixa
de ter um serviço coletivo e cada pessoa terá um couvert para si.
É desta época o início do uso mais freqüente do garfo, que
trouxe consigo novos pratos, e novas práticas alimentares. Desta
forma, a França vai rompendo com os costumes medievais
aonde todos se serviam num prato comum e com as mãos. Foi
ao longo do Séc. XVIII que surge os fundamentos da refeição
moderna: a elegância da mesa, a etiqueta, o comportamento à
mesa para comer e para beber. No séc. XVIII, a forma de dispor
a comida nos pratos foi fortemente influenciada pelos
acompanhamentos e com a conseqüente expulsão da ditadura do
alho e da cebola: legumes, vegetais, os verdes, os temperos
passam a dar cores aos pratos. Desta forma, a França promove a
substituição da cozinha do olfato pela cozinha do olhar. Na
verdade o Antigo regime (da realeza) ao realizar os famosos
Banquetes de Estado que fizeram a fama do Palácio de
Versalhes, produziu pratos que eram concebidos e apresentados
de modo a realçar e divulgar grandeza da cozinha francesa.
Neste período os cozinheiros franceses já eram considerados os
melhores do mundo. Desta forma a realeza se vangloriava de
promover a doçura do bem viver (frase de Talleyrand), que
enaltecia o orgulho francês de ter a melhor cozinha do mundo.
Ainda no séc. XVIII, antes da revolução Francesa, se
inventou em Paris o restaurante. Esta constatação começa por
demolir a versão clássica, e reforçada, como no filme “A Festa
de Babette”, que, segundo SEVCENKO, “vê à culinária francesa
como uma das grandes conquistas da Revolução Francesa” (1).
Há duas versões sobre a invenção dos restaurantes: 1. Aquela
exposta por FLANDRIN & MONTANARI (2), demonstrando
que M. Boulanger, também conhecido como “Champs
d’Oiseaux, um padeiro e vendedor de sopas, resolveu colocar em
seu estabelecimento perto do Louvre, algumas mesas a
disposição a disposição dos seus clientes, que até então tomavam
seus caldos restauradores em canecas e em pé. E com o aumento
da clientela que passou a exigir além dos caldos restauradores,
outros pratos, M. Boulanger passou a servir pratos com
alimentos sólidos em porções individuais. A partir de então, ele
foi seguido por outros imitadores e estava então inventado o
restaurante na França, com um novo profissional o
Restaurateur e um novo tipo de negócio, o Restaurante; 2. a
outra versão sobre a invenção do restaurante, parte de SPANG
(3) que atribui à Marthurin Roze de Chantoiseau a criação
destes paraísos dos sabores. Sendo uma figura conhecida,
Chantoiseau fixou residência em Paris em 1760, em plena
conjuntura de crise econômica da França em face da sua dívida
interna. Em Paris, a partir da fortuna herdada do pai, um rico
latifundiário e mercador, Roze de Chantoiseau, após algumas
tentativas de elaboração de projetos para ajudar a França a sair
da sua crise, em 1765 abriu as portas do primeiro restaurante. A
intenção era, através dos restaurantes, “fazer circular o
dinheiro, que ajudaria a melhorar a situação econômica
francesa “(4).
Após a revolução francesa, muitas pessoas que vinham a
Paris buscavam estes lugares mais simples que servia uma
comida também simples, mas reconfortante. Entretanto haviam
chefes de cozinha desempregados, cujos patrões membros da
alta nobreza, haviam fugido da revolução. Estes chefes,
obrigados a encontrar uma outra maneira de realizar o seu
trabalho, acabaram abrindo os seus próprios restaurantes, e
tornando a cozinha artística dos grandes mestres, antes só
encontrada nas residências dos ricos e poderosos, agora acessível
ao grande público que pudesse pagar por ela. Nasce assim o
grande restaurante em França, um produto autenticamente
francês, desconhecido até então, com uma cozinha superior, um
salão elegante, garçons eficientes e uma adega cuidadosa e
selecionada. Tais predicados se espalharam pelo mundo,
tornando a cozinha francesa famosa e respeitada. A partir daí,
toda uma cultura culinária começou a florescer. Desenvolveu-se
uma verdadeira “ciência da mesa”, e em 1801 foi criado o termo
gastronomia para designar o que Montaigne chamava de
“ciência da gula”.
Para aqueles que estudam a História da Alimentação, os
discursos gastronômicos evoluem em função das mutações
técnicas, econômicas, estéticas, sociais e políticas, como a
colonização (e o contato com outros povos), os fenômenos
imigratórios, as relações internacionais, as conseqüências das
guerras e hoje em dia em função da globalização. Nesse sentido,
os alimentos não só alimentos, eles são atitudes, protocolos,
convenções. Nenhum alimento que entra em nossas bocas é
neutro. O alimento é uma categoria histórica e a formação do
gosto alimentar não se dá exclusivamente por seus predicados
biológicos e nutricionais.
No final do séc. XVIII, quando Napoleão chega ao poder e
depois invade a Europa e o Oriente, os seus soldados portam na
ponta das baionetas a obra dos direitos humanos e atrás deles
seguem exércitos de cozinheiros, cabeleireiros, professores de
danças: é a civilização francesa se expandindo pelo mundo.
Nesta época destaca-se o cozinheiro-chefe Carême, considerado
um dos mais renomados expoentes da culinária francesa.
Carême foi contemporâneo de Brilhat Savarin, famoso autor da
obra “A Fisiologia do Gosto”. Deve-se a Carême a invenção do
vol-au-vent.
É importante destacar que os predicados da cozinha
francesa são produtos da efervescência da sua história e da sua
cultura. Há ainda a Geografia da França, oferecendo diversos
tipos de clima e quatro fachadas marítimas. Possuiu também um
império colonial rico em possibilidades agrícolas e fontes
generosas de alimentos. Tudo isso estimula as trocas e
influências inter-regionais e com o Exterior. De todas esta
simbioses emerge a identidade nacional francesa, expressa na
cozinha e na mesa francesa.
Na França os cozinheiros são respeitados, os Chefs são
admirados e os Grandes Chefes são honrados tanto quanto os
chefes militares. Desta forma foram cozinheiros que se tornaram
famosos como Paul Bocuse e Pierre Troigros, conceberam a
nouvelle cuisine, denominação francesa para uma total
renovação da culinária ligada à cultura pós-maio de 1968.
Trata-se de uma nova concepção de se preparar os alimentos,
usando-se, sobretudo, ingredientes frescos, de temporada,
processo de cozimentos curtos, cardápios leves, evitando-se
marinadas, fermentações e molhos a base de farinha, manteiga e
caldos. Trata-se de uma cozinha clássica, estética e muito
artística na sua apresentação.
Para compreender a cozinha francesa é preciso conhecer
com que detalhes ela lida. As riquezas culinárias da Ile-de-
France, com seus patês de enguia da cidade de Melum e os
cogumelos e presuntos de Paris. Da Normandia vem o leite, a
manteiga, a nata, os peixes do mar, as aves, os queijos em
grandes variedades, os ovos, as cidras e o Calvados. Da
Bretanha, vêm os mariscos, crustáceos e os peixes, sendo famosa
também por seus legumes: ervilhas, repolhos, couve flor,
alcachofras e cebolas. Da região da Champagne vêm a
Champagne, as trutas e as caldeiradas. Da Borgonha chegam os
vinhos tintos mais famosos, como o Conti Romanée e também
vinhos brancos, mais os legumes, a caça abundante, os peixes de
rio, o gado de primeira qualidade, as frutas e a mostarda de
Dijon. Enfim, ficar-se-ia muito tempo falando das grandes
relíquias alimentares da França, que possibilitam a melhor
cozinha do mundo. Desta forma, um país que consegue codificar
297 formas de preparar o ovo (com mais de 125 tipos de
omelete), faz a história no campo da gastronomia.
Nos últimos tempos a cozinha francesa tem começado uma
nova diversificação: Há cozinheiros como Alan Passard que
abandonou a cozinha das carnes e se concentra numa alta
gastronomia de legumes, onde o legume é o alimento principal,
como as beringelas da Bretanha, que é o nome do prato
principal. Assim como Pierre Gagnaire que joga forte no prato
das langustines na manteiga de nozes.
Há uma nova cozinha na França? Em recente evento em
Tours/França, intitulado ”Novas Tendências Culinárias” (5) foi
constatada a realidade de que não há como abstrair as
influências da cozinha molecular na culinária francesa. De
qualquer maneira, desta resistência da nouvelle cuisine face às
inovações da cozinha contemporânea, quem ganha é a clientela,
ávida pela boa comida.



Referências Bibliográficas
(1) SEVCENKO, Nicolau. A síndrome da vaca cega. S.
Paulo: Carta Capital, 24/jan/2001, p. 73.
(2) História da Alimentação/ sob a Direção de Jean-Louis
Flandrin & Massimo Montanari. S. Paulo: Estação
Liberdade, 1998, p. 755.
(3) SPANG, Rebecca L. A Invenção do Restaurante. Rio de
Janeiro: Record, 2003, p. 27.
(4) LORENÇATO, A. E a democracia do paladar mudou. S.
Paulo: Gazeta Mercantil, 12/13 out/2002, p.9.
(5) Forum “Nouvelles Tendances Culinaires”. Tours
(França), IEHCA, 02/03 dez/2005.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

História da gastronomia



A gastronomia – esta expressão nasce no grego antigo: gastros, ‘estômago’, e nomia, ‘lei, conhecimento – é uma arte que engloba a culinária, ofício de preparar alimentos; as bebidas; a matéria-prima de que se valem os profissionais para a elaboração dos pratos e, enfim, todos os recursos culturais ligados a esta criação.


A história da gastronomia se perde nos primórdios da existência da Humanidade, iniciando-se provavelmente, segundo os historiadores, no período paleolítico, assim que o Homem começou a caçar. Uma nova etapa se descortinou para o ser humano quando ele se tornou sedentário, fixando-se à terra, impulsionando então a agricultura e o domínio dos animais. Esta ação proporcionou uma riqueza alimentar antes desconhecida, possibilitando o crescimento da população e o desenvolvimento das migrações, sempre que se esvaíam os bens naturais.

Apenas os egípcios e os mesopotâmicos mantiveram-se em sua própria terra, graças à intensa e permanente fertilidade propiciada pelos rios Nilo, Tigre e Eufrates. Os pioneiros na arte gastronômica foram os indianos, africanos, árabes, japoneses, chineses e os italianos da era do Império Romano. Logo a fartura resultante da abundância de alimentosgerou o comércio, pois havia a carência de determinados produtos em uma ou outra região, assim era preciso estabelecer um intercâmbio entre estes territórios. O comerciante gerava um fenômeno até este momento inédito, alguns alimentos novos tornavam-se indispensáveis para as pessoas, implementando ainda mais os trâmites comerciais.

Para resistir aos longos deslocamentos sem deteriorar, os alimentos foram protegidos com a adição de temperos eresinas, e cedo o Homem se deu conta da potencialidade de algumas ervas aromáticas, as quais incrementavam o paladar dos alimentos, além de ajudar na sua preservação. A procura destas plantas deu início a grandes transformações sócio-políticas, como o fim do Império Romano, o início dos Descobrimentos, entre outras.

A França não tardou a se tornar um grande centro gastronômico. A união do rei Louis de França com a filha da Itália Catherine de Médici, considerada a rainha das panelas, foi o princípio de uma história de sucesso para a Gastronomia em solo francês. No ano de 1748 despontou neste país um gourmet – como é designado o cozinheiro na França – de imenso talento, Antoine Careme, que já aos 17 anos era contratado para ser o cozinheiro oficial do Palácio Champps-Elisée. Posteriormente, ele foi trabalhar com o imperador Alexandre da Áustria e depois serviu com seus talentos o Barão de Rothschild, o homem mais rico e poderoso da França. Em 1885 o maior cozinheiro do Planeta também era francês, August Scouffier, o qual criou um código relacionando todos os elementos gastronômicos essenciais para uma cozinha, o que contribuiu para um requinte sem igual na Gastronomia.

Na década de 60, Paul Bocuse, Gault Millan e Jean Michelli subverteram esta arte ao criarem a Nouvelle Cuisine Française. Há uma diferença fundamental entre a Gastronomia e a Culinária. O gastrônomo ou gourmet também cozinha, mas ele está igualmente atento à sofisticação dos pratos, preocupando-se em expor da melhor forma possível os alimentos preparados. Assim, ele observa as vestes, a música e a dança mais apropriadas para se aliar a determinadas refeições, transformando este momento em uma verdadeira cerimônia alimentar, não só voltada para a sobrevivência do Homem, mas principalmente para lhe despertar o máximo prazer. Hoje, a região do Mediterrâneo é a mais talentosa na criação de pratos sofisticados e bem produzidos, ocupando o topo na história da Gastronomia.